A Amélie Poulain de Reykjavík

Eu só conhecia a Monika através do Couchsurfing, e já tinha reparado nas semelhanças dela com a Amélie Poulain, mas, poxa, pessoalmente é impressionante (essa é em sua homenagem, Renan, que adora a Amélie). Monika estava sozinha em casa, porque Karl, o americano com quem ela divide o apartamento da Hjámholt, havia voltado para os EUA e só voltaria a Reykjavík dia 8 de janeiro, e Andrew, o outro americano (que estava apenas passando alguns dias ali), havia saído.
Monika é uma ex-vegetariana, ex-vegan na verdade, que sucumbiu aos prazeres da carne animal (desconfio que nunca tenha aberto mão dos prazeres da carne dos islandeses – não que pareça ser uma garota fácil ou nada disso, é que ela é bastante bonita, pele clara, cabelos bem lisos e escuros, olhos esverdeados, enfim, além de bonita é muito diferente das garotas por aqui, e por isso deve chamar muito a atenção).

Ela me convenceu, sem muito esforço, a dormir ali naquela noite, porque estava chovendo um pouco e ia ser difícil chegar no hotel àquela hora. Então, enquanto comíamos o jantar que ela preparara (arroz com páprica, cogumelos e pimentão vermelho, e para beber leite de arroz – que é a bebida mais horrenda que já provei, depois de suco de couve), conversamos bastante. Ela trabalha num jardim de infância, e veio para a Islândia seis meses antes de terminar o curso de música na Universidade de Poznan. Aparentemente os pais dela têm bastante dinheiro, mas ela decidiu viver algum tempo fora de casa, sem depender deles, para tentar fazer algo com o próprio esforço. Porém o jardim de infância já disse que vai demiti-la em fevereiro, então ela está seriamente considerando voltar para casa em maio, quando as economias dela já terão se esvaído.

Eu diria que ela é uma mistura da Amélie com o burro do Shrek, porque fala pra cacete! Muito simpática, e muito direta. Diz o que pensa, e “do not take it personal”. Ela fez mil perguntas sobre toda a minha vida no Brasil e outras muitas sobre o livro, achou o máximo o que ela chamou de “simplesmente escolher um país para escrever sobre e se mudar para lá por um mês e meio”. Às vezes é um pouco difícil de entendê-la, e eu estava na dúvida se ela era lésbica, porque levei algum tempo para perceber que de vez em quando ela confunde “he” com “she”. Ficamos conversando até depois das quatro da manhã, quando ela, notando que eu estava “pescando” enquanto ela falava, perguntou, com o sotaque polonês:

“Você quer ir dormir?”

“É, acho que não tô mais parando acordado… foram quase 24 horas de viagem, e dormi pouco nos vôos...”

“Tudo bem. Amanhã vou para o centro às 11 e meia, porque tenho que trabalhar. Se você quiser ir comigo, eu lhe mostro o caminho mais rápido para chegar lá, e também onde fica o supermercado mais barato da cidade. Esse vale a pena conhecer, porque todos os outros são EXTREMELY (ela adora usar essa expressão) mais caros”.

“Claro. Irei com você.”

“Já deixei o quarto pronto. O banheiro é ali naquela porta, pode tomar banho se você quiser. Boa noite”, disse ela, mostrando o banheiro e o quarto e indo dormir.

O lugar onde a Monika mora é muito bacana. É um prédio novo, e o “porão” é dividido em 2, sendo que no apartamento ao lado moram outros três poloneses (em Reykjavík há muitos poloneses e tailandeses). Há um banheiro espaçoso, onde fica também a máquina de lavar roupas. Não há secadora porque tem aquecedores em todos os cômodos, então eles simplesmente penduram as roupas em cabides e deixam secando dentro dos quartos. São três quartos, uma cozinha com armários coloridos, fogão elétrico e uma geladeira esquisita, de duas portas do mesmo tamanho, sendo que a parte de baixo é o freezer. A sala tem dois ambientes e abriga uma mesa de jantar com quatro cadeiras coloridas, uma mesa de centro e uma de canto (ufa), além de um sofá de 4 lugares e vaso com uma árvore – que atualmente é de Natal. E apesar de todas essas coisas ainda tem bastante espaço vago. Ah sim, e tem ainda o 3º morador da casa, Hanes (pronuncia-se “Ránesh”), o gato que é igualzinho ao Garfield (na cor, na gordura e no sarcasmo – não, ele não fala, mas só falta isso) e tem o mesmo nome do ex-namorado da Monika. Quando ela nos apresentou eu perguntei se o nome do gato era devido ao ex, mas aparentemente o animal (o gato ou o Quico?) pertencia ao antigo morador, que se mudou para Akureyri (cidade no norte da Islândia) (é, eu adoro explicar as coisas entre parênteses) (não é recomendado, estilisticamente falando, mas o blog é meu e eu faço o que quiser nele) há quatro anos e deixou, dentre outras coisas, o bichano. Perguntei para ela se eu corria o risco de, dado o desapego do ex-morador, encontrar, sei lá, a mãe dele jogada em algum canto, mas aparentemente eu não correria esse risco.

Arrumei minhas coisas no quarto, o que pretty much significa que eu deixei tudo num canto, peguei meu pijama, uma toalha, a escova e a pasta de dentes e fui tomar um banho. Eu poderia ter ficado duas horas naquela água quente, não fossem dois motivos: em primeiro lugar, eu era um convidado e não queria abusar da hospitalidade da anfitriã. Segundamente, a água cheirava a enxofre! Não um cheiro muito forte, mas dava perfeitamente para sentir o odor do diabo na água. Pensei que talvez tivesse levado a sério demais a história de “sobrinho do capeta” (como uma vez me chamou o então chefe de gabinete – e piadista nas horas vagas – do então prefeito de Laranjal, Roberto “Graças-a-Deus-já-foi-embora” Fuglini. Chefe de gabinete esse que, por inacreditável coincidência – e crueldade da mãe –, chama-se Hilário – ha ha ha piada pronta!), mas aí que eu me lembrei de uma coisa. Todas as casas de Reykjavík possuem sistema de aquecimento geotérmico, ou seja: a água quente que sai das torneiras vêm do Perlan, um gigantesco reservatório de água sugada das fontes termais da região. E, bem, não se poderia esperar que a água aquecida por estar em contato com magma cheirasse a lavanda, né? Aliás, algo também muito interessante, é que os aquecedores que esquentam os cômodos não funcionam, como nos EUA e na maioria dos países frios, a gás ou à energia elétrica: aqui eles são feitos de canos de cobre por dentro dos quais passa essa mesma água fervente que sai do Perlan. A Islândia, tempos atrás, recebeu um prêmio por levar realmente a sério a utilização de fontes alternativas de energia, sendo a geotérmica a principal delas. Aqui existem muitos, mas muitos rios de planalto, de correnteza forte, que poderiam ser represados para a construção de hidrelétricas. O problema seria que, no inverno, não haveria energia, porque os rios congelam. Então não foi exatamente um ato de benevolência à natureza o fato de a Islândia, com seus 300 mil habitantes, usar a enorme quantidade de água fervente que brota do seu chão como fonte de energia. Foi pura inteligência, que explica por que causa, razão ou circunstância, num país com um dos custos de vida mais altos do mundo, onde tudo é caro por ser importado, água e energia elétrica são de graça.

2 comentários:

7 de janeiro de 2009 às 16:54 Anônimo disse...

uóm, meu pai leu seu blog e mandou eu te dizer isso:

hamingjusamur dvöl inni Ísland.
faðir- Pity

ele tentou te mandar recado aqui mas tava sem paciência pra criar conta... hahaha

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